Artista: pintor holandês Gerard van Honthorst (ou Gherardo delle Notti)
Arte sacra . óleo sobre tela . 164 cm x 190 cm . ano 1.622
"Essa é a trindade de verdades reveladas simbolizadas aqui pelos três tipos nas antigas histórias do Natal. Nenhum outro nascimento de um deus, nenhuma outra infância de um sábio nos parece ser o Natal nem algo parecido com o Natal. Poderíamos admirá-la por ela ser poética, ou por ser filosófica, ou por muitas outras coisas isoladas; mas não por ela ser o que é. A verdade é que há um caráter muito peculiar e individual envolvendo o fascínio que essa história exerce sobre a natureza humana; em sua substância psicológica ela não é nada parecida com uma lenda ou com a biografia de um grande homem. Ela é antes algo que nos surpreende pelas costas, desde a parte oculta e pessoal de nosso ser; como aquilo que às vezes nos pega desprevenidos na emoção de pequenos objetos ou nas atitudes piedosas de gente pobre. É mais propriamente como se alguém tivesse descoberto um quarto interno no recesso mais íntimo de sua própria casa, de cuja existência nunca se suspeitara, e houvesse visto uma luz provindo lá de dentro. É como se alguém houvesse encontrado algo no fundo do seu coração que o cooptasse para o bem. Não é algo feito daquilo que o mundo chamaria de materiais resistentes; ou melhor, é algo feito de materiais cuja resistência reside naquela leveza alada com que eles nos tocam de leve e vão embora. É tudo aquilo dentro de nós que não passa de uma breve ternura e que ali se torna eterno; tudo aquilo não significa mais que um enternecimento momentâneo que de alguma estranha maneira se transforma em fortalecimento e repouso; é a palavra perdida e o discurso interrompido que se tornam positivos e são suspensos intactos, à medida que os estranhos reis desaparecem num país distante e nas montanhas já não se ouvem os pés dos pastores; e permanecem apenas a noite e a caverna com pregas sobre pregas cobrindo algo mais humano que a humanidade." (G. K. Chesterton, em O Homem eterno)