BREVE HISTÓRIA DA FOTOTERAPIA
Em 1820, o psiquiatra Étienne-Jean Georget do Hospital Salpêtrière, na França, estudou os retratos de monomaníacos pintados pelo artista Jean-Louis André Théodore Géricault. O problema do retrato pintado é que despotencializava a assertividade científica da observação direta, confundindo ou desviando o olhar científico dos sinais reais, resultando em classificações menos precisas apoiadas na subjetividade do artista. Assim, com o advento da fotografia, se pressupôs a não subjetividade dos registros e estudos.
Esses trabalhos tiveram início predominantemente na França, no Hospital Salpêtrière, com o médico e zoologista Philippe Pinel, o psiquiatra Jean Dominique Esquirol, o neurologista Guillaume-Benjamin-Amand Duchenne, o médico e cientista Jean-Martin Charcot, o neurologista Désiré-Magloire Bourneville que posteriormente foi trabalhar em Bicètre, o médico fisiologista e fotógrafo Paul-Marie-Léon Regnard, o fotógrafo e cientista Albert Londe, e o anatomista, fisiologista e escultor Paul Marie Louis Pierre Richer; paralelamente, na Inglaterra, no Asilo Surrey Country Lunatic, com o médico Morison Alexander e o psiquiatra Hugh Welch Diamond, no Hospital de Bethlehem com o médico George Leman Tuthill, e no Asilo de Hanwell com o psiquiatra John Conolly, para citar alguns.
As técnicas de fototerapia e fotografia terapêutica não são novas, em 1844, o psiquiatra Thomas Story Kirkbride usou slides de "lanterna mágica" ou epidascópio, antecessor dos aparelhos de projeção modernos, como entretenimento social de diversão, educação e terapia para pacientes psiquiátricos no Instituto do Hospital da Pensilvânia. Eram apresentações em slides fotográficos de imagens de ambiente ao ar livre para educar e treinar os pacientes para o mundo exterior, intensificando e reforçando o princípio da realidade que deveria atuar como força de tratamento na terapia, objetivando reduzir a distância entre a loucura e sanidade para ajudá-los a adquirir um senso de realidade, na esperança de que eles aspirassem ao nível de funcionamento das pessoas saudáveis. Ao "exercitar a mente" dos pacientes, aumentaria as suas percepções racionais, acreditando que as imagens lhes forneceriam estabilidade, além disso, serviam para ocupar a mente até o apagamento de delírios e sentimentos mórbidos, por um período transitório, seguindo a suposição de que a luz emitida a partir da lente poderia chegar ao cérebro, provocando uma alteração física na química cerebral, dessa forma, a fotografia tornou-se não apenas um meio técnico de representação.
Em 1848, o psiquiatra Hugh Welch Diamond documentou as expressões faciais de pacientes que sofriam de transtornos mentais no Asilo Surrey County Lunatic, na Inglaterra. Esta ciência conhecida como morfopsicologia foi desenvolvida durante o século XIX e tinha como objetivo descobrir a natureza do caráter de uma pessoa estudando suas características faciais. As fotografias também poderiam ser usadas para identificar o paciente reincidente e os criminosos insanos.
Seu projeto fotográfico tinha como objetivo estudar a fisionomia da doença mental com o objetivo de identificar sinais visuais para diagnóstico e tratamento. Também poderiam ser usadas para mostrar aos pacientes como eles se pareciam, uma visão realista de si mesmos em vez da distorcida em suas mentes, e, portanto, ajudar a tratar sua doença mental, na esperança do autorreconhecimento de seu comportamento psicótico.
Muitas de suas fotografias eram sequências do antes e o depois, para acompanhar o progresso de seus pacientes. Assim, o doente mental aceita uma nova visão de si mesmo como uma pessoa curada, ao mesmo tempo, em que as representações de si em uma condição perturbada agiam repressivamente como advertências, lhe mostrando o que acontecerá com eles(as) novamente se deixar de desempenhar seu papel adequado na vida.
No entanto, suas imagens fotográficas não eram representações objetivas de doença mental. Acreditava que melhorando as circunstâncias externas de seus pacientes, ou seja, roupas, ambiente e higiene, sua doença mental consequentemente melhoraria. Ele incluiu traços metonímicos, símbolos como roupas, corpo e penteados, e encenou as fotografias para maximizar sua eficácia, criando um espelho mediado por meio do qual seus pacientes se viam. A câmera fotográfica era uma ferramenta que ele usava para reproduzir sua própria visão e permitir que outros vissem o que ele via, forçando os pacientes a se verem por meio do olhar dos seus olhos. Os conceitos de saúde e doença se refletiam na aparência e também na compreensão dela. Ao se olharem no espelho, os pacientes veriam o que esperavam ver, somente à distância proporcionada pela mediação da fotografia poderia ser alcançado o choque necessário e posterior reconhecimento. Encenou suas fotografias para dar sentido àquelas marcações que, sem intermediários, permaneciam invisíveis para os pacientes. Suas análises fotográficas traçavam o comportamento e não a personalidade, supondo que uma mente errada pode ser corrigida, ao considerar as fotografias como objetos de representação miméticos pelos pacientes, estes deveriam ser transformados por suas próprias imagens, treinando o julgamento pessoal ausente neles quando se olhavam diretamente no espelho.
Apresentou suas pesquisas à Royal Society britânica num artigo intitulado "On the application of photography in the physionomic and mental phenomena of insanity" em 1956. E também realizou uma exposição em Londres intitulada "Types of madness".
Em 1860, o fotógrafo Henry Hering fotografou pacientes no Hospital Bethlehem na Inglaterra.
Em 1880, o neuropsiquiatra Jean-Martin Charcot registrou fotograficamente os pacientes histéricos no Hospital Salpêtrière na França.
Ambos, Henry Hering e Jean-Martin Charcot, usaram fotografias de pacientes psiquiátricos para fins educacionais.
Contemporaneamente, em 1973, a psicóloga e arteterapeuta Judy Weiser usou a fotografia em seu trabalho com crianças surdas, e publicou seu primeiro artigo intitulado “PhotoTherapy Techniques” em 1975, neste mesmo ano, iniciou o ensino sobre as técnicas de fototerapia no Canadá e em cursos de formação em arteterapia nos Estados Unidos e Europa. Após alguns anos, os psicólogos David A. Krauss e Alan Entin, os terapeutas Doug Stewart e Brian Zakem, e outros, também começaram a ministrar cursos nos Estados Unidos. Em 1982, Judy Weiser fundou o Centro de Fototerapia em Vancouver, e, em 1993, publicou o livro ”PhotoTherapy Techniques: exploring the secrets of personal snapshots and family albums". Ela classifica os terapeutas que somente usam a fotografia como praticantes da fototerapia, e os arteterapeutas que usam as técnicas de fototerapia como praticantes da fotoarteterapia.
Em 1979, aconteceu o primeiro Simpósio Internacional de Fototerapia em Illinois, nos Estados Unidos, que atraiu participantes de cinco países e apresentações de profissionais da área, como o psicólogo e arteterapeuta Jerry L. Fryrear, o fotógrafo, poeta e fototerapeuta Arnold Gassan, o psicanalista e arteterapeuta Robert Irwin Wolf, e outros, além dos mencionados anteriormente, cujas publicações formaram a base da literatura da área.
No Brasil, a psicoterapeuta e arteterapeuta Regina Aparecida Santos publicou o artigo “Fotografia: re-significando a própria história” em 1998, mas ainda sem aplicar as técnicas da fototerapia. Seu trabalho foi o único que encontrei, além do uso do álbum de família na gestalt-terapia, em minhas pesquisas em 2004 para o meu trabalho de conclusão de curso em Psicopedagogia e Arteterapia na FPA. Continuando as minhas pesquisas em fontes e bases internacionais, encontrei, principalmente, as técnicas de fototerapia da Judy Weiser e as publicações de David A. Krauss, Jerry L. Fryrear e Irene E. Corbit. E em 2005, apresentei o meu trabalho “A fotografia digital como ferramenta auxiliar na psicopedagogia e arteterapia”.
Em 2007, a artista visual e arteterapeuta Simone Rodrigues publica o artigo “O uso da fotografia e do vídeo em arteterapia” sobre autorretratos.
Ingressei em outra formação em Arteterapia, no Instituto Sedes Sapientiae, e apresentei o meu artigo “O olhar através da fotografia e do teatro: alma e matéria” em 2008, cuja síntese foi publicada na revista Arteterapia: Reflexões, ano IX, No. 08, 2010. O termo “através” no sentido de olhar além da imagem fotográfica que se apresenta, “atravessando-a”, e olhar além das personagens representadas no palco, “atravessando” as suas materialidades, um olhar não somente como meios materais de ferramentas terapêuticas.
Em 2010, comecei a ministrar o curso “Retratos na Arteterapia”, no Instituto Sedes Sapientiae, e também em grupos particulares, baseado nas técnicas da fototerapia e na minha experiência vivencial-pessoal, como Judy Weiser escreve enfaticamente em seu livro: “faça o processo com você mesmo antes de aplicá-lo na terapia”. Finalizei esse primeiro ciclo de cursos em 2017 e, atualmente, o ministro para grupos particulares. Após cinco anos complementando os meus estudos sobre a psicologia humana, elaborei um aprofundamento das técnicas.
Portanto, no Brasil, a fototerapia não teve, propriamente, o seu início, as técnicas da fototerapia foram apropriadas e adaptadas às técnicas da arteterapia e outras terapêuticas praticadas pelos profissionais.
Atualização em 13 de julho de 2022:
Em 2011, minha aluna, Vera Lúcia Cardozo Silva Henriques, assistente social e terapeuta com formações em Morfoanálise, Constelação Familiar Sistêmica, Aconselhamento Biográfico e Contação de Histórias, começa a aplicar as técnicas da fototerapia como um potente recurso simbólico em atendimentos grupais, na cidade de Ribeirão Preto - SP. Percebe que o recurso simbólico é muito curativo e supre a carência de estímulos para o desenvolvimento da subjetividade, dando contornos seguros e sentido às experiências e à vida.
Atualização em 30 de julho de 2022:
Em 2013, minha aluna, a psicoterapeuta Edna Soares começa a aplicar as técnicas da fototerapia nas sessões e também em intervenções no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial – com resultados maravilhosos.
A (nossa) história continua... e esta página deve ser atualizada.