QUAL A DIFERENÇA ENTRE FOTOTERAPIA E ARTETERAPIA ? E A FOTOGRAFIA NA ARTETERAPIA.
Cada linguagem artística e técnica tem as suas particularidades para a recuperação, mudança e transformação interna. Dentre as linguagens das artes visuais, a fotografia é um meio que aborda sob a perspectiva de fora para dentro, isto é, aspectos externos internalizados, enquanto outros meios abordam sob a perspectiva de dentro para fora, ou seja, aspectos internos externalizados. É uma forma de desvendar as suas dualidades encobertas.
Uma vantagem é a relativa facilidade, familiaridade e conforto social ao fotografar, mostrar e falar sobre as imagens fotográficas, sendo mais indicada para pessoas com comunicação verbal difícil por razões físicas, emocionais ou mentais, especialmente os transtornos mentais graves, e aquelas em situações de exclusão social, pois requer menos esforço e habilidade, por exemplo, fotografar é mais simples que desenhar ou pintar com pincel e tintas.
Segundo Judy Weiser, a fototerapia e a arteterapia são técnicas de intervenção inter-relacionadas, embora diferentes em produto e processo porque são usados tipos diferentes de meio. Ambas trabalham em dar forma visual aos sentimentos e tornar o invisível mais visível, explorando os significados mais profundos das imagens visuais, de maneiras diferentes e por diferentes razões.
Na arteterapia, considera-se que a representação simbólica de informações e experiências sensoriais internas será menos distorcida ou abreviada do que as interpretações verbais. Cada vez que as pessoas criam ou visualizam desenhos ou fotografias, elas sempre projetarão informações inconscientes por meio de metafóricas que emergem de dentro de si mesmas, aprendendo mais sobre sua própria vida interior. Os símbolos visuais permitem o desvio dos filtros verbais, das racionalizações, das desculpas e defesas protetoras que limitam o contato direto com sentimentos, pensamentos e memórias, servindo como a primeira de muitas camadas de significado potencial que um terapeuta formado deve ajudar a pessoa a explorar.
Em geral, o espectador vê uma obra de arte percebendo inconscientemente a expressão do ponto de vista pessoal do seu criador. No entanto, a fotografia é percebida como uma imagem factual, presumindo que são mais verdadeiras no que mostram do que os retratos desenhados de forma mais subjetiva pelos artistas.
Portanto, as fotografias são como provas da sua existência, identidade e história.
Em adição aos aspectos documentais e narrativos das fotografias que formam as histórias pessoais, há dados projetivos, físicos e de relacionamento com o mundo externo à terapia. Outro fator, é que é possível se ver como realmente aparecemos fisicamente para os outros, em vez de ver uma imagem de si mesmos em um espelho. Podemos ver partes de si que não estão disponíveis para auto-observação como, o perfil, as costas, dormindo ou em movimento, e como membros de grupos, dentre os quais está a família, amigos e colegas de trabalho, ou, acrescento também, colegas de estudo.
É quase impossível estar simultaneamente experimentando um sentimento e falando sobre ele. Por esta razão, as técnicas de terapia sensorial não verbal, como a fototerapia ou a arteterapia, ou, melhor, ambas combinadas, são abordagens mais apropriadas para trabalhar com a linguagem metafórica primariamente visual.
O SCRAPBOOK NA ARTETERAPIA
LIVRO DE MEMÓRIAS PESSOAL E FAMILIAR
As memórias podem ser “eternizadas” em álbuns de fotografia, físicos ou digitais, tradicionais ou decorados, ou em páginas de scrapbook.
O QUE É SCRAPBOOK?
Scrapbook é um livro com páginas vazias onde se podem colar fotografias, artigos de jornal, etc. O termo inglês scrap significa um pequeno pedaço de alguma coisa, especialmente papel, tecido, etc. (dicionário Oxford). E a tradução do termo book é livro.
Em tradução livre, é um livro de recortes, que consiste de uma página de papel, normalmente quadrada, que contém três elementos principais que o caracterizam como scrapbook: um título, uma ou mais fotos e uma parte escrita denominada journaling.
Em meados do século XXI, Flor, uma brasileira casada com um norte-americano e radicada no Texas, nos Estados Unidos, foi minha professora de scrapbooking e me ensinou: "...se não tiver estes três elementos – título, foto(s) e journaling – não é scrapbook, é um álbum decorado". Ela acrescenta que a página pode ter, ou não, um barrado no rodapé. Não há tradução literal para o termo journaling, mas pode ser entendido como o registro de sentimentos e pensamentos.
Sua origem remonta há mais de um século, mas o scrapbook como o conhecemos atualmente começou a se popularizar a partir da década de 90 do século XX. Culturalmente, os norte-americanos, dentre outras culturas, os criam como livros de memórias em família para compartilhá-los com as gerações futuras.
No Brasil, o scrapbook entrou no mercado no início do século XXI e ganhou seus amantes, embora, nós brasileiros, não tenhamos o mesmo hábito cultural dos norte-americanos.
Para sua confecção, são usados diversos materiais como papéis lisos e decorados, arames, adesivos, etiquetas, carimbos, fitas, botões, entre outros. A reunião de várias páginas de scrapbook compõem um álbum.
É uma atividade que libera a imaginação, a criatividade, aumenta a concentração, e também pode ser terapêutico, assim como fotografar, conversar, caminhar, cozinhar, pintar, entre outras. Especificamente na atividade de scrapbooking, o aspecto terapêutico aparece porque muitas memórias vêm à tona durante o processo criativo, propiciando reflexões sobre questões envolvendo essas lembranças – poderíamos chamar de scrapbook terapêutico, pois não é acompanhada por um terapeuta formado.
Na arteterapia, o arteterapeuta se apropria do scrapbook como mais uma opção de ferramenta para intervenção. Além da criatividade, estimulamos o suporte à memória, a autoconsciência, e, ao analisar ou criar seu álbum de memórias que compõem a narrativa da sua história de vida, vamos encontrando o sentido dela.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE FOTOTERAPIA, ARTETERAPIA E SOUL COLLAGE?
Tanto a fototerapia quanto a arteterapia e o soul collage desenvolvem a criatividade e intuição, estimulam a autodescoberta ou autoconsciência para que a pessoa se oriente no mundo.
Na arteterapia, a colagem é uma das técnicas das artes visuais usada no processo arteterapêutico.
Na fototerapia, são usadas fotografias e, eventualmente, imagens de cartões, de calendários, entre outros, que correspondem a "coleções" de imagens guardadas pela pessoa.
Soul collage é uma prática artística expressiva criada pela psicoterapeuta Seena B. Frost em 1980. Consiste em cartões criados com a técnica da colagem de imagens retiradas de revistas, livros, calendários, sites de imagens de uso livre (royalty free), entre outros, e também podem ser desenhados ou incluir fotografias. É baseada no processo Neter card, da lenda egípcia, em que neters eram os(as) deuses(as) que saíam da Fonte para ajudar ou desafiar os humanos.