SÍNTESE HISTÓRICA DA ARTETERAPIA

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A ARTE PRESENTE NA VIDA

A arte está presente na vida das pessoas há mais de 160.000 anos, os registros são do período paleolítico com a Arte Rupestre, palavra que vem do latim rupes que significa rocha. São representações artísticas pré-históricas realizadas em paredes e tetos de cavernas, abrigos rochosos e em superfícies rochosas ao ar livre. Divide-se em pintura realizada com pigmento e gravura gravada em incisões na rocha. A maioria são representações de animais, plantas, sinais gráficos abstratos e, figuras humanas, estas começaram a aparecer no período neolítico.

Os desenhos mais famosos estão na caverna de Lascaux na França, em Altamira na Espanha e em Tassili n'Ajjer na África.

No Brasil, o principal sítio é o Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí, com o maior acervo do continente americano; no Parque Nacional do Catimbau em Pernambuco, o segundo maior parque arqueológico do Brasil; em Pedra Pintada no Pará; em Lajedos de Corumbá no Mato Grosso do Sul; em Pedra do Ingá na Paraíba; na Lapa do Boquête, Lapa do Cabloco, Lapa do Soberbo, Lagoa Santa e Peruaçu em Minas Gerais; nas Ilhas de Campeche e Coral em Santa Catarina; em Serindó, Chapada do Apodi e Lajedo de Soledade no Rio Grande do Norte, para citar alguns.

Traçando uma linha do tempo, a seguir, temos a Arte Antiga, a Medieval, a Moderna e a Contemporânea até os dias atuais, cada período com seus movimentos artísticos que não serão abordados nesta postagem.

BREVE HISTÓRIA DA ARTETERAPIA

A arte focada no seu aspecto terapêutico começa na segunda metade do século XIX, em 1876, com o psiquiatra Paul-Max Simon, o psiquiatra Enrico Morselli em 1894, o médico e escritor Júlio Dantas em 1900 e o psiquiatra Joseph Rogues Fursac em 1906, que estudaram o aspecto patológico das produções artísticas de pessoas em sofrimento psíquico.

Paralelamente, em 1888, o psiquiatra e criminalista Cesare Lombroso analisou desenhos de doentes mentais e classificou traços psicológicos destes pacientes; seguido também por seu discípulo Enrico Ferri.

Em 1906, o psiquiatra Fritz Mohr realizou estudos comparativos entre os trabalhos produzidos por doentes mentais, por pessoas saudáveis e por artistas, e percebeu a manifestação de suas histórias de vida, angústias e conflitos pessoais, influenciando, posteriormente, o desenvolvimento de testes psicológicos como os de Hermann Rorschach e de Henry Alexander Murray.

Em 1910, o psiquiatra Hans Prinzhorn publicou um estudo comparativo entre os desenhos produzidos por doentes mentais e integrantes das escolas de artes impressionista, expressionista, surrealista e primitivista. Em 1922, analisou manifestações patológicas em expressões artísticas de pessoas consideradas "saudáveis" e publicou o livro "Expressões da loucura", que discute os processos de criação artística dos pacientes psiquiátricos, analisou os mecanismos de elaboração nas produções usando um método derivado da fenomenologia, da Gestalt e da teoria estética da empatia para explicar como emerge o impulso criador que cada pessoa contém em si sob o processo civilizatório, independente de serem pessoas psicóticas e sem conhecimento artístico.

No início do século XX, o neurologista e psicanalista Sigmund Freud postulou que o inconsciente se manifesta por meio de imagens que transmitem significados mais diretamente do que as palavras porque escapam mais facilmente da censura da mente, e observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente na produção artística, retratando conteúdos do psiquismo como uma forma de catarse. Analisou as obras de alguns artistas, pesquisando a subjetividade dos autores e de seus apreciadores, buscando entender a relação entre o efeito emocional provocado pelas obras de arte sobre o observador ou espectador.

No início da década de 20, o psiquiatra Carl Gustav Jung usou a expressão artística como forma de tratamento, pedindo aos clientes que desenhassem livremente imagens de sentimentos, sonhos e situações conflituosas. Para ele, a simbolização do inconsciente individual e do coletivo ocorre na arte, afirmou que a criatividade tem uma função psíquica natural e estruturante e, que a atividade plástica e a criatividade são funções psíquicas inatas que contribuem para a evolução da personalidade, estruturação do pensamento e reorganização dos sentimentos mais profundos e do caos interior. 

Paralelamente, em 1922, se inicia o teatro terapêutico com o psiquiatra Jacob Levy Moreno, atualmente conhecido como psicodrama. 

Em meados da década de 20, para citar alguns, surgiram estudos realizados por profissionais como o neurologista Henri Meige, o médico Marcel Réja, o psicólogo Henri Delacroix, o psiquiatra Walter Morgenthaler e o neuropsiquiatra Enrst Kretschmer que buscaram entender os estados mórbidos por meio da vida e obra de artistas que tiveram algum distúrbio mental. O médico Marcel Réja aprofundou a compreensão dos processos criativos dos insanos, abordando o desenho, a pintura, a escultura, a poesia e a prosa, a música e a dança para investigar o impulso criativo dos doentes mentais, dos prisioneiros, dos povos primitivos, dos pintores naïf, das crianças e dos visionários. Em 1921, o psiquiatra Walter Morgenthaler se interessou pela produção plástica dos doentes mentais e publicou "Um alienado artista". O psiquiatra Leo Navratil tentou esquematizar as produções dos esquizofrênicos, notando semelhanças entre as produções dos psicóticos, das crianças e dos primitivos, e tais semelhanças são encontradas em obras de arte moderna com construções fragmentadas, distorcidas, desestruturadas espacial e formalmente, com presença do insólito, do primitivo e de abstração. Em 1922, o neuropsiquiatra Ernst Kretschmer integrou dados biológicos e psicológicos na abordagem das doenças mentais considerando, em cada caso particular, todos os fatores que pudessem interferir no modo de convergir aos estados patológicos: constitucionais, hereditários, orgânicos e sociais. Considerou que a relação entre a constituição física e a personalidade correlacionam o tipo físico com o temperamento e o transtorno psiquiátrico. Em 1924, o neuropsiquiatra Jean Vinchon publicou o livro "Arte e insanidade".

No Brasil, o psiquiatra Ulysses Pernambucano trabalhou no Hospital Nacional e no Hospital da Tamarineira, foi o primeiro a relacionar arte e loucura e elaborou estudos sobre o que se chamava "arte nos alienados".

Em 1923, o psiquiatra Sílvio Moura apresentou sua tese intitulada "Manifestações artísticas nos alienados" que discorreu sobre as produções de alguns hospitais do país.

O médico Heitor Carpinteiro Péres, que dirigiu o hospital na Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro, afirmou o valor terapêutico da produção artística entre os pacientes, dirigindo a produção plástica conforme a solicitação de cada caso em sua especificidade.

​Em 1923, o psiquiatra Osório Thaumaturgo César trabalhou com arte no hospital do Juqueri em Franco da Rocha - SP, trocou experiências com Freud, e publicou "A arte primitiva nos alienados". Em 1927, publicou "Contribuição para o estudo do simbolismo místico nos alienados", "Sobre dois casos de estereotipia gráfica com simbolismo sexual" e, em 1929, "A expressão artística nos alienados". Em 1948, fez a primeira exposição de trabalhos artísticos de pacientes mentais no Museu de Arte do Hospital.

Em 1941, a psicóloga, educadora e artista Margaret Naumburg usou a arte em seu consultório e o denominou de "Arteterapia de orientação dinâmica". E em 1968, ministrou cursos de extensão em arteterapia.

Em 1946, a psiquiatra Nise da Silveira, aluna de Jung, criou ateliês para trabalhar com desenho, pintura, modelagem em argila, dança, música e dramatização, dando forma plástica e expressiva às emoções, demonstrando como a atividade artística pode ser terapêutica, fundando a oficina de terapia ocupacional no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro. Em 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente e, em 1981, publicou o livro "Imagens do inconsciente”. 

Em 1953, Hanna Yaka Kitkowska iniciou um trabalho de arteterapia com grupos e famílias em Maryland, nos Estados Unidos.

Em 1958, a artista, seguidora da psicanálise, Edith Kramer passou a dar mais importância ao processo do que ao produto final, priorizando a observação do comportamento durante a execução sem a necessidade de verbalização, para ela, a ênfase no trabalho está na relação transferencial.

Em 1972, a lacaniana Françoise Douto usou a arte como meio de comunicação com crianças, dentre os quais, os gestos, as mímicas, os desenhos, as modelagens, entre outros, ajudando também no desenvolvimento motor, no raciocínio e no relacionamento afetivo.

Em 1973, a artista e gestalt-terapeuta Janie Rhyne usou diversos recursos artísticos para investigar sentimentos, muitas vezes obscuros, e descreveu sua experiência e transformações de seus clientes. Publicou o livro "The Gestalt Art Experience" que relata a possibilidade de promover o contato com os conflitos e reorganizar as próprias percepções por meio da arte. Considerou que o aumento da percepção é favorável ao desenvolvimento das potencialidades humanas e da autonomia na vida. Suas experiências de integração da arte com a Gestalt de Fritz Perls lhe deram as bases para sistematizar a arteterapia.

Em 1974, a psicoterapeuta Natalie Rogers, filha de Carl Rogers, aplicou os princípios da teoria centrada na pessoa ao trabalho expressivo: pintura, modelagem, expressão corporal, teatro, dança, música, poesia e mímica. Denominou-o de Conexão Criativa e postulou que a expressão deve ser verbalizada e compreendida pelo próprio cliente, e não interpretada pelo terapeuta.

Teorias mais recentes como, as linhas humanista, sistêmica e transpessoal, vêm fundamentando a área.

A arteterapia propicia resultados em um breve espaço de tempo. Visa estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes e ampliar a consciência do indivíduo sobre si e sua existência. 

QUAL A DIFERENÇA ENTRE ARTETERAPIA E TERAPIA ARTÍSTICA?

Terapia artística é a denominação utilizada pela antroposofia. Comparativamente, a terapia artística antroposófica usa menos recursos das artes visuais, se limitando à pintura, à modelagem e ao desenho, com extensão para a musicoterapia e dramaterapia.

A terapia artística teve sua origem no trabalho conjunto da médica Ita Wegmann (1876-1943) e o artista e filósofo Rudolf Steiner (1861-1925), no qual a pintura era, às vezes, prescrita como parte do tratamento médico.

Em 1925, a médica Margarethe Hauschka (1896-1980) teve contato com duas artistas, Sofia Bauer e Maria Kleiner, que praticavam a pintura com os pacientes, e, a partir desse encontro, ela também começou a trabalhar com pintura e cerâmica com os seus pacientes. Em 1929, foi responsável pelo ensino de arte nos cursos de enfermagem e medicina antroposóficas. A partir de 1940, trabalhou e ministrou cursos durante 22 anos, e construiu as bases práticas e teóricas da terapia artística para fundar, em 1962, a escola de terapia artística em Bad Boll na Alemanha.

No Brasil, a terapia artística surgiu com a enfermeira e fisioterapeuta Ada Jens (1921-1994), aluna de Margarethe Hauschka em 1969, por meio de sua prática na Clínica Tobias em São Paulo e, posteriormente, pela criação do curso de terapia artística.

Fontes: União Brasileira de Associações de Arteterapia (UBAAT); Wikipédia; www.historiadasartes.com; www.sab.org.br; Melo, Valter - Nise da Silveira, Fernando Diniz e Leon Hirszman: política, sociedade e arte; Dantas, Vânia de Freitas - Arte, loucura e terapias: uma reflexão contemporânea; Almeida, Tairini Ayhu Cruz Aparicio de - Arte e psiquiatria: o discurso do médico Osório César (1925-1939); Thomazoni, Andresa Ribeiro & Fonseca, Tania Mara Galli - Encontros possíveis entre arte, loucura e criação; Andriolo, Arley - O método comparativo na origem da psicologia da arte; Freitas, Fernando Ferreira Pinto de & Amarante, Paulo Duarte de Carvalho - A importância de Hans Prinzhorn para a reforma psiquiátrica no Brasil.

Cristina Syono | Psico-Arte-Fototerapia | WhatsApp +55 11 99624-6801




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